terça-feira, 6 de outubro de 2009

Asas de uma lágrima



Um sonho acordado é estranho, mas é normal sentirmos esta sensação quando nossas mentes atingem o seu ápice, começam a trazer reflexões e imagens muito próximas em uma velocidade impressionante. Certo dia, um relógio – peça fundamental nos dias atuais – de uma casa caiu e, ao invés de rodar no sentido horário, começou a fazer a rotação contrária. Aquilo foi um transtorno naquela família.

As crianças perderam o colégio, os pais atrasaram no trabalho, foi um tormento. Estava sacramentado que nos dias atuais aquele simples relógio não só marcava as horas, como controlava a vida das pessoas. Mas o que dizer se todos os relógios fossem parados?


Imaginemos os iraquianos sem marcar o tempo para que as bombas pudessem explodir e dizimar milhares de pessoas. No Irã, os estudos nucleares passariam a caminhar em passos lentos, porque aquele relógio que andava apressado para produzir armas químicas e poderosas passaria a não ter finalidade. Os seus alvos – países de primeiro mundo que detêm hoje o poderio militar e econômico – não tinham mais tanta pressa de produzir, exportar, importar, etc. Na África, talvez menos crianças iriam morrer de fome ou vítimas da aids. No Brasil, iríamos diminuir os crimes de colarinho branco, aqueles que são praticados à luz do dia, sem nenhum escrúpulo.

Tinha que ser assim. Criamos o relógio, aprendemos à força a conviver com ele, e, agora, nos resta desmistificar Tempo x Vida. Ao ser consertado, o relógio voltará a fazer sua rotação diária e aí voltaremos a chorar com aquelas crianças mortas, com o desespero dos pais, com o fanatismo religioso transformado em sangue pelas ruas.


A vida não foi criada para vivermos assim, mas o saber do homem foi mais longe e ele transformou o tempo em dinheiro, as pessoas em mercadoria, as religiões em guerra, os animais em bicho de extinção, e aí não parou e chegou ao que é hoje. A vida não pode parar, isto tudo é um ciclo. Deveria ser como as plantas que nascem, crescem, envelhecem e morrem, mas infelizmente estamos ultrapassando etapas. Estamos nascendo já de roupa e aprendendo inglês para sobreviver.

Quando chegamos à fase de adolescente, as máquinas invadem o nosso cotidiano e não conseguimos ficar sem elas. Os anos avançam e, quando atingimos a fase adulta, temos que suar para manter o que conseguimos. Assim, a luta invade as manhãs e noites sem sono. A avalanche de lembranças só acaba quando nos tornamos idosos porque o filme da vida não para de rodar.


Ele nos mostra que a bomba enrolada ao corpo nada mais fez do que chamar a atenção para a dor do preconceito, do sofrimento, da falta de fé. As armas químicas eram só instrumentos para matar a arrogância política, o poder econômico e a frieza humana.

Não precisava disso, imaturos jovens, hoje a idade me dá não só cabelos brancos, mas uma proximidade com as coisas que não vivi com amor. Troquei as bombas amarradas ao meu corpo pelas palavras sábias e de conforto. Aprendi a alimentar o sofrimento com o sorriso, e vi na imagem de Deus a esperança de um mundo mais justo.


As armas químicas troquei pela humildade, e partilho hoje a riqueza com os mais necessitados.


Não deixe para refletir quando os cabelos brancos aparecerem, eles são só marcas de um tempo e não sinônimo de inteligência.


Fonte da Foto: pontoblogue.com

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